quinta-feira, 21 de agosto de 2008

ONDE ESTÃO OS LÍDERES

COPIADO INTEGRALMENTE DE:
http://www.administradores.com.br/artigos/onde_estao_os_lideres/24482/

Há muito tempo tenho pesquisado e desenvolvido trabalhos sobre liderança e gestão de pessoas. Neste período presenciei muitas coisas intrigantes sobre o tema. Uma delas é o fato de haver tanto investimento na formação e desenvolvimento de lideranças, mas pouco resultado prático.

Dave Ulrich afirma em Liderança Orientada para Resultados: “o trabalho do líder exige mais do que caráter, conhecimento e ação; ele também demanda resultados”.

Segundo minhas observações e experiência no assunto um fator tem sido primordial para esta falta de resultados e eficácia dos programas de treinamento e desenvolvimento de lideranças: a falta de coragem dos líderes em assumir seu papel.

Um dos pressupostos básicos da liderança é a capacidade de tomar a iniciativa e assumir os riscos. Em outras palavras, o líder é aquele que diante do conflito, da dificuldade ou dos problemas toma a frente e assume a responsabilidade, promovendo as ações necessárias ou dirigindo os esforços dos subordinados para tal feito. Para Kouzes e Posner, “as oportunidades de liderança são na verdade aventuras de uma existência e requerem espírito pioneiro. Começar uma nova empresa, reverter uma operação perdida, melhorar intensamente a condição social, aumentar a qualidade de vida – todos são nobres esforços humanos. Esperar uma permissão para começá-los não é uma característica dos líderes. Agir com senso de urgência, sim”.

O que vemos é um tanto de gente em papel de liderança sem coragem para tomar as decisões necessárias para o bem das empresas, dos funcionários, da sociedade e deles próprios. Efetivamente sem este senso de urgência, de realização. Escondem-se atrás do manto sagrado do trabalho em equipe.

Nos estudos que tenho realizado junto a empresas de pequeno e médio portes, em grande parte, o medo das pessoas em assumir o risco da liderança está relacionada com a auto-estima. Geralmente rebaixada por motivos individuais e coletivos.

Desde criança, em nossa cultura, os pais educam os filhos para não correr riscos. Frases como: “não corra”, “vá devagar para não se machucar”, “não faça isso”, “não faça aquilo” e assim por diante, são constantemente proferidas pelos pais, educadores e outras pessoas próximas. Cria-se um verdadeiro time de covardes.

As atividades coletivas são mais estimuladas que as individuais. As pessoas são estimuladas a não se destacarem individualmente, mas coletivamente. Vemos este tipo de representação nos esportes, nas empresas e em várias atividades sociais. Os que se destacam por seus próprios méritos são rapidamente invejados ou depreciados por não saberem atuar em equipe.

Durante o período escolar são incentivadas a trabalhar em grupo, mas poucas vezes valorizadas por realizações individuais. Quando isso acontece há a desconfiança de privilégios.

Obviamente que é cômodo colocar a culpa somente na família, na sociedade, na escola e em tudo que é externo. Há a parte que cabe a cada um. O fato de ter sido educado para preferir ficar na zona de conforto não significa que devemos nos acomodar a isso. Romper esta barreira emocional criada na infância e na adolescência é o grande desafio. Para isso é preciso conhecer as limitações e qualidades que cada um tem. Quem deseja ser um líder precisa ficar atento a isto e sair do paradigma do “sempre foi assim”. Em resumo, assumir o risco.

Assumir o risco significa, em parte, não ser aceito, não ser compreendido, não agradar a todos, não abaixar a cabeça, não aceitar a mediocridade, o erro e o despreparo. Tudo isso tem um preço a ser pago. Para muitos este preço é muito alto. Pode custar o emprego, a aceitação do grupo, a imagem de boa pessoa e tudo mais.

Lembrando que um dos valores arraigados em nossa sociedade é o de viver bem na coletividade, ser um verdadeiro líder conflita com este estereótipo. Afinal, quem está preparado e predisposto para ir contra este padrão de comportamento?

O verdadeiro líder sabe disso e ainda assim segue em frente. Ele tem a certeza de que seu papel é exatamente o de conduzir aqueles, que por diversos motivos, não tiveram coragem de estar a frente.

Portanto, para ser um verdadeiro líder é necessário conhecer melhor a si mesmo, suas qualidades e fraquezas; transpor as barreiras do medo e da insegurança, trabalhando na sua auto-estima; ter propósitos firmes, porém, com humildade para saber mudar e se adaptar sempre que necessário. Vai encarar? Sucesso!

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

APRESENTAÇÃO DA AGRONOMIA.

APRESENTAÇÃO DA AGRONOMIA.


ESTE TEXTO FOI COPIADO INTEGRALMENTE DE:
http://www.sobresites.com/agronomia/apresentacao.htm

A Agronomia utiliza contribuições de várias ciências exatas, sociais e econômicas. O arranjo original dessas contribuições lhe confere características próprias. Por meio de seus princípios e procedimentos, a Agronomia se manifesta como um conjunto organizado de conhecimentos. Em razão da multiplicidade de seus objetos de estudo, ela pode ser dividida em muitos ramos, tais como, por exemplo, horticultura, fruticultura, suinocultura e piscicultura.



Os conhecimentos agronômicos se combinam de diversas maneiras para formar vários modelos de pesquisa e ação. A definição e adoção de um modelo dependem notadamente dos objetivos e critérios definidos. Ao longo da história da humanidade, alguns modelos praticados têm estagnado, evoluído ou desaparecido. Tradicionalmente, a concepção e aplicação de modelos eram decididas essencialmente no sentido de garantir o lucro máximo ao produtor e procurar o aproveitamento máximo do meio natural. Mas, nos últimos trinta anos, tem-se desenvolvido e fortalecido, no mundo, uma tendência evidente e cada vez mais forte de elas serem definidas com base na motivação de atender às particularidades do consumidor e à proteção ao meio ambiente. Assim, existem várias formas de combinação de conhecimentos agronômicos, desde as que usam grandes quantidades de insumos químicos até as que respeitam e conservam a natureza.



A aplicação da agronomia apresenta um caráter geralmente local. Seu sucesso depende em grande parte de sua adaptação às particularidades do meio natural e mais especificamente do solo e do clima que variam de uma região à outra. No Brasil por exemplo, o Nordeste é bem diferente do Sul. Os modelos de combinação de conhecimentos agronômicos, usados para fins produtivos, precisam ser escolhidos em função da abundância ou escassez de fatores essenciais a seu uso.



Várias controvérsias têm sido registradas a respeito da eficiência econômica e social de tecnologias ligadas à agronomia. Uma das mais conhecidas se refere à Revolução Verde, denominação dada à introdução de variedades de cereais de alto rendimento (VAR) em países em desenvolvimento. Esta revolução foi realizada na década de 50. As novas variedades de trigo, milho e arroz foram criadas, no México, pelo CIMMYT (Centro Internacional de Melhoramento de Milho e Trigo) graças a uma subvenção da Fundação Rockefeller. As variedades melhoradas de arroz foram selecionadas, nas Filipinas, pelo IRRI (Instituto Internacional de Pesquisa em Arroz) inicialmente financiado pelas Fundações Ford e Rockefeller e, em seguida, patrocinado pela FAO. Muitos países da Ásia, do Oriente Médio, da África e da América Latina adotaram de maneira significativa essas novas variedades de cereais. A Revolução Verde abrangia não só as variedades melhoradas mas também outros componentes: irrigação e domínio do abastecimento em água e melhor utilização da umidade, fertilizantes, pesticidas e técnicas agronômicas associadas. Ela apresentou resultados técnicos espetaculares, permitindo a alguns países (como a Índia, o Bangladesh e a Indonésia) se transformarem de deficitários em alimentos a exportadores de cereais e acarretando também em outros países (como o Egito e o Paquistão) um aumento considerável no ritmo de produção agrícola. Entretanto, foi muito criticada sobretudo por causa da forte intensificação do uso de insumos agroquímicos que gerou preocupações relacionadas à ecologia e saúde humana.



Hoje em dia, há a questão dos transgênicos ou organismos geneticamente modificados (OGMs). No Brasil, o processo de difusão dos transgênicos no sistema alimentar caracteriza-se, essencialmente, por um embate entre entusiasmo de alguns atores sociais e resistência de outros. De um lado, há os que, motivados pelas promessas de obtenção de uma maior rentabilidade com o cultivo dos transgênicos, acreditam numa possibilidade de aumentar a competitividade da agricultura brasileira no cenário internacional. Por outro lado, há os que, preocupados com os potenciais riscos da biotecnologia moderna, alinham-se a um esforço de resistência coletiva à difusão dos transgênicos na agricultura brasileira. Envolvido nesse assunto, publiquei em 2004, na revista "Caderno de Ciência e Tecnologia", um artigo cujo objetivo foi examinar diferentes aspectos do contexto brasileiro de expansão dessas biotécnicas. Esse artigo caracterizou os desafios do sistema agroalimentar brasileiro em relação ao processo de globalização dos mercados e intensificação dos fluxos internacionais de tecnologia e discutiu as potencialidades da biotecnologia moderna, indicando as possibilidades de seu uso e analisando as condições científicas e tecnológicas do Brasil de promover e sustentar o processo de geração e uso de biotécnicas.



Um aspecto destacado através desse artigo é a importância de profissionais competentes para a sustentação dos processos de enriquecimento da agronomia e de aplicação de conhecimentos agronômicos. A agronomia é uma ciência que evolui. Além da experimentação, o tradicional método de pesquisa agronômica, usa-se atualmente a modelização e o diagnóstico in situ. Com a evolução da agronomia, estão sendo desenvolvidos novos ingredientes, aparelhos, instrumentos e máquinas. Também, multiplicaram-se as instituições que têm atividades de pesquisa e desenvolvimento relacionadas à agronomia. Portanto, evidencia-se cada vez mais a necessidade de acesso a informações sobre características e preços dos insumos assim como sobre objetivos, programas e projetos das instituições.



O Guia de Agronomia é concebido para atender a essa necessidade. Ela contem vários tópicos por meio dos quais é possível adquirir conhecimentos agronômicos e se informar de novidades relacionadas à agronomia.



André Yves Cribb

Editor do Guia Agronomia

Pesquisador A

Embrapa Agroindústria de Alimentos

HISTORIA DA AGRONOMIA NO BRASIL (PARTE 01)

História da Escola de Agronomia da UFBA, a partir do nascimento do Imperial Instituto Bahiano de Agricultura

ESTE TEXTO FOI COPIADO INTEGRALMENTE DE:
http://www.decisa.ufba.br/historico_agrba.html

Em meados do século passado a ciência agronômica dava grandes saltos no continente europeu. Na Alemanha emergia, pela mão de Justus Liebig, o ensino e a pesquisa em química agrícola, na Universidade de Giessen. Em 1840 é publicado seu livro Die Organische Chemie in Iihrer Anwendung, um verdadeiro compêndio de química aplicada à agricultura, destinado a se constituir no manifesto da agronomia contemporânea, permitindo Liebig desfrutar da fama de ser o primeiro agrônomo europeu da era industrial. A este avanço se somam aqueles aduzidos por Hellriegel e Wilfarth sobre a ação fixadora de nitrogênio por parte de bactérias que vivem em simbiose com as leguminosas e as contribuições trazidas por Edmund Ruffin, sobre o uso generalizado do calcário para corrigir a acidez do solo. Estas descobertas, praticamente, fecham o ciclo dos conhecimentos que vêm, até hoje, orientando as teorias sobre nutrição vegetal.

Na França, por outro lado, tinha lugar a contribuição de Jean Baptiste Dieudonné Boussingault, cujo propósito era o de desenvolver tecnologias com base em todos os conhecimentos científicos disponíveis, inclusive aqueles aportados pelo próprio Liebig.

A Inglaterra, de sua parte, dava, pela mão de Davy Hamphry, uma contribuição à fisiologia e à nutrição vegetal. Os Elements of Agricultural Chemestry incorporavam as descobertas de Cavendish, de Scheele, de Priestley e de Lavoisier, à análise química das plantas e do solo, estabelecendo relações entre a composição das cinzas da massa vegetal e a composição dos nutrientes em formas de sais, que deveriam ser incorporados aos solos quando a análise destes revelasse carência. Também na Inglaterra, difundia-se a contribuição de James Watt, que consistia no uso do carvão mineral para geração de vapor, utilizado para acionar sistemas de máquinas estacionárias o que levou, mais à frente, seu emprego em máquinas auto-tracionadas, precursoras do trator.

Nesse período, de certa forma sob a influência dessa revolução científico-tecnológica na agropecuária, surgia, na Província da Bahia, a primeira instituição, stricto sensu, de pesquisa agropecuária no Brasil: o 'Imperial Instituto Bahiano de Agricultura', IIBA, com data de nascimento em primeiro de novembro de 1859. Sua sede própria resultou de adaptações feitas em um antigo mosteiro, situado na localidade conhecida como São Bento das Lages, povoado próximo a Santo Amaro da Purificação e ligado à vila de São Francisco. Visava-se com isto aproveitar as antigas instalações do Mosteiro de N. S. das Brotas, pertencente à ordem dos beneditinos, que lá chegaram antes que São Francisco do Conde ascendesse à categoria de vila, o que se deu no fim do século XVIII, cf. da Fonseca (1988).

A vila foi denominada posteriormente de São Francisco do Conde - atualmente município com o mesmo nome - por ter surgido por influência do engenho que pertencia ao Conde de Linhares, recebido por este como herança do seu sogro Mem de Sá, terceiro Governador Geral do Brasil. As intervenções físicas somente foram finalizadas cerca de quinze anos mais tarde, em 1875 (Fiúza, 1934 e da Fonseca, 1988).

Na sua edificação original o IIBA consistia de um pavilhão central de três andares, onde estavam os laboratórios, de outras construções menores de apoio aos trabalhos de campo e de uma estação experimental. Nos seus primeiros 50 anos de vida a instituição realizou pesquisas e experimentos que contribuíram para a expansão e consolidação das lavouras da cana-de-açúcar, fumo, mandioca e algodão no Recôncavo Baiano.

Valiosa nesse período, sobretudo até a primeira década do Século XX, foi a colaboração de pesquisadores estrangeiros, principalmente franceses e alemães. O IIBA foi criado com dois objetivos: ensino e pesquisa. Desde sua fundação envolveu-se com o ensino agronômico, transformando-se, a partir de 1920, na Escola Agrícola da Bahia. Malgrado tenha vivido várias crises, a instituição formou centenas de engenheiros agrônomos e técnicos agrícolas, dos quais uma parte veio a se dedicar à docência e à pesquisa em novas instituições científicas criadas na Bahia e em outros estados. Além de sua inequívoca importância na criação de um ambiente científico e cultural na Bahia oitocentista, o qual repercutiu nas várias áreas de conhecimento, teve o IIBA um papel fundamental na organização de instituições de pesquisa por produto, que visavam o apoio à economia agro-exportadora. Dentre estas as mais conhecidas foram o Instituto de Cacau da Bahia, ICB, e o Instituto Baiano de Fumo, o IBF, em cujas estações experimentais e laboratórios foram geradas inovações no que concerne à variedades de plantas - algumas resultantes de cruzamentos - e à procedimentos tipo técnicas de plantio, tratos culturais, controle de pragas e doenças e práticas de colheita, pós-colheita e beneficiamento. A influência do IIBA se estende até as grandes reformas administrativas dos anos 30 e 40, que mudam a fisionomia das ciências agrárias na Bahia.

O propósito do IIBA, segundo seus criadores, era oferecer uma alternativa à decadência das lavouras, introduzindo novos procedimentos produtivos, testando e desenvolvendo novas variedades, enfim gerando e difundindo novos conhecimentos que significassem um avanço em relação ao que era aplicado nos tempos coloniais. Sua criação foi uma iniciativa conjunta da corte imperial e da aristocracia açucareira, que associavam a decadência da lavoura de cana-de-açúcar à falta de créditos e de políticas protecionistas, mas também à ausência de técnicos que instruíssem os fazendeiros, seus empregados e seus escravos.

A idéia se materializou graças à passagem do Imperador Pedro II pela Bahia, quando voltava de uma viagem de visitas a outras províncias nordestinas. A viagem do Imperador ao Nordeste tinha como objetivo encontrar soluções - as quais, preferentemente, envolvessem o Governo Geral, o Governo Provincial e as classes produtoras - para a crise da economia agrário-exportadora. A crise, que já durava quase meio século, encontrava explicação no que Furtado (1974) chama de estancamento das exportações brasileiras, o qual repercutia sobre o nível de renda, ocasionando um longo declínio da economia. Em cinqüenta anos o valor das exportações brasileiras passou de 4 milhões de libras para pouco menos de 6 milhões, um crescimento anual de menos de um por cento. Mesmo este pequeno aumento, teve como protagonista o café. Excluído este produto, de acordo com o autor, o valor das exportações em 1850 é menor que em 1800.

Segundo Castro (1975) e da Costa (1985), o quadro se explicaria pela perda do impulso de exportação de açúcar a partir das primeiras décadas do século XIX, o que se agrava nas décadas seguintes, tendo como causas o fim das Guerras Napoleônicas e a concorrência do açúcar de beterraba produzido na Europa e do açúcar de cana produzido nas Antilhas, que já não viviam momentos de grande agitação social. A estas causas, Brandão (1998) agrega as dificuldades crescentes com a importação de escravos e, no caso particular da Bahia, vide Mattoso (1982), a uma epidemia de Cholera morbus, que teria dizimado 30.000 escravos.

Uma vez em Salvador, e a par do quadro de decadência das lavouras, Pedro II propôs uma parceria do Governo Geral com o da Província e com a elite de produtores rurais, com o objetivo de implantar uma instituição que se encarregasse da produção e da disseminação de conhecimentos agronômicos 1. A boa intenção e a receptividade não significaram, contudo, que a idéia do IIBA se concretizasse imediatamente. O que se deu foi, somente, o início de um processo de capitalização no qual os governos, Geral e Provincial, aportavam recursos de seus orçamentos, que somavam anualmente mais de quarenta contos de réis (40:000$000), e os produtores contribuíam com uma quota de cinco réis, por arroba de açúcar produzido. Esta composição, que viabilizou o aporte de recursos, foi uma sugestão bastante inovadora, até para os dias de hoje, da parte de Francisco Gonçalves Martins, o Visconde de São Lourenço. Em 1870, sem que os fundos arrecadados tivessem proporcionado a conclusão do projeto, o Conselho do IIBA propôs um acordo de cooperação com um centro de pesquisas agronômicas europeu, a Ècole Agricole du Grignon, sugestão logo abandonada porque iria demandar mais recursos ainda.

No que toca à localização da sede da instituição, após longas discussões e disputas envolvendo interesses de diferentes senhores de engenho e de parte da Igreja Católica, prevaleceu a tese de que, devido ao maior dinamismo da atividade açucareira e ao potencial dos solos de massapé, comparativamente aos outros da Província, a instituição deveria localizar-se no Recôncavo e nele com a maior proximidade possível da área de maior concentração dos engenhos. No que tange à micro-localização, em que pese houvesse melhores alternativas, a escolha terminou por recair, como já se fez referência, na localidade de São Bento das Lages.

As obras de construção da sede e das instalações de pesquisa e ensino foram conduzidas pelo naturalista francês Louis Jacques Burnet, inicialmente com mão-de-obra escrava e posteriormente através de empreitada com mestres e trabalhadores livres. Na avaliação de Burnet, a força de trabalho escrava era pouco produtiva e descuidada 2 o que teria levado a um atraso inexplicável (Fiúza, 1934).

Durante a fase construção e implementação das instalações do IIBA, contribuíram dois outros naturalistas, Louis Morreau e Frederic Maurice Draenert, os quais se envolveram, principalmente, com a importação de equipamentos para a pesquisa e livros para a biblioteca. Os laboratórios, os museus, as salas de clínica e intervenções cirúrgicas de medicina veterinária e a biblioteca, foram bem providos em termos de instalações e de acervo. A biblioteca, quando do início de funcionamento do IIBA, já contava com oito mil volumes (Fiúza, 1934 e Guimarães, 1934).

O custo total de implantação do IIBA foi de seiscentos e quarenta e oito contos de réis (648:000$000) e antes mesmo do início de seu funcionamento já se argumentava que o ensino agronômico não deveria esperar que a instituição de consolidasse em termos de pesquisa, experimentação e adaptação de lavouras exóticas. Pesava neste argumento a sugestão imperial para que IIBA se voltasse para o ensino e o fato de só haver na Província um outro curso superior, o de medicina, o que obrigava à elite baiana interessada em outra formação para seus filhos, a manda-los diplomarem-se em Pernambuco.

O início das atividades técnico-científicas se deu em 1875, com a nomeação do médico Arthur Cezar Rios como diretor. A abertura oficial do ensino das ciências agrárias, por sua vez, aconteceu em 15 de fevereiro de 1877, com o início dos cursos de engenharia agronômica e de medicina veterinária. Nesta primeira fase o IIBA contou com dezessete professores, a grande maioria brasileiros. A instituição oferecia, ainda, cursos técnicos, inclusive o de gerente florestal. Para conclusão dos cursos superiores se exigia a defesa de tese. O IIBA encerrou suas atividades em 1904 - já com o nome de Instituto Bahiano de Agricultura em virtude do advento da República - havendo formado 273 engenheiros agrônomos 3 , uma vez que o curso de veterinária não se consolidou. A participação dos donos de engenho sócios, na forma de pagamento de uma taxa por arroba de açúcar, desaparecera há mais de uma década. Como a instituição não tinha uma vinculação orgânica com o Estado, nem na esfera federal nem estadual, os problemas de manutenção se agravaram a ponto de que sua continuação se tornou inviável, desfazendo-se o modelo tripartite, de parceria entre o Estado, em seus dois níveis, e os produtores de açúcar (Fiúza, 1934 e Guimarães, 1934).

Neste mesmo ano de 1904 o estado da Bahia decidiu assumir integralmente a instituição, entregando seu destino a pesquisadores estrangeiros. Diante do grande prestígio da ciência germânica - em sua proposta da geografia da hegemonia da produção do conhecimento, Yusa, apud Baiardi (1996), define o período de 1810 a 1920 como sendo de inquestionável hegemonia da ciência germânica - são contratados três agrônomos alemães: Leo Zehutner, Julius Lohmman e Edmund Schubert.

Curiosamente, um destes sobrenomes, o de Lohmann, é o mesmo do cônsul da Áustria em Salvador, na segunda metade do século XIX. Tratava-se de um doublé de diplomata e comerciante e foi a pessoa que proporcionou todo o apoio necessário para que Ferdinand Maximilan da Áustria realizasse seus deslocamentos e suas incursões no entorno de Salvador e no Recôncavo. O Príncipe austríaco - que como 'viajante' brindou a historiografia brasileira com o seu Reise-Skizzen, Bahia, 1860, com 346 pgs. de relatos de grande importância para as ciências da natureza - teve em Sr Lohmann o seu anfitrião de fato. Durante sua passagem por Salvador, quando fez observações e classificações zoo-botânicas que depois resultaram em texto com 104 pranchas, das quais 32 coloridas, Maximiliano 4 não teve contato com as autoridades da Província (Habsburgo, 1982).

A liderança da nova instituição, então denominada de Instituto Agrícola, é confiada ao pesquisador Leo Zehutner, que vinha trabalhando com agricultura tropical na ilha de Java. Em sua primeira manifestação oficial o pesquisador alemão condenou o ensino agronômico que se conduzira no IIBA, taxando-o como excessivamente teórico, voltado para a formação de "bacharéis", que estavam mais interessados em empregos públicos que em dedicar-se à agricultura. O reduzidíssimo número de engenheiros agrônomos que após a graduação no IIBA foram conduzir atividades nas fazendas do Recôncavo ou de outras regiões do estado, era, para Leo Zehutner, um indicador de que o curso de agronomia deveria suspender seu funcionamento até que houvesse uma grande produção científica e técnica no Instituto. Estes já eram os primeiros sintomas de uma série de crises institucionais, as quais dão início a um processo de desestabilização que viria, anos mais tarde, fazer desaparecer a instituição. A sua manutenção, que sempre fora responsabilidade da administração federal, passa para esfera provincial, retornando em seguida para a órbita da União para, poucos anos após, reintegrar-se, definitivamente, no âmbito do Governo estadual. Com essa sucessão de mudanças, o IIBA entra em decadência e como instituição pioneira da pesquisa agropecuária no Brasil só recupera alguma importância, como se verá mais adiante, quando se transforma na Escola Agrícola, na década de 20,

A direção de Leo Zehutner, que durou seis anos, permitiu a atração de outros pesquisadores estrangeiros. Neste período vieram da Europa Ph von Schultzeburg, Paul Bigler, Paul Huart Chevalier, Zolinger e Charles Reginald Girdwood . Em que pese sua grande dedicação, Leo Zehutner não obteve o apoio que necessitava para manter uma instituição científica nos padrões que ele exigia. Por volta do fim da primeira década deste século, a instituição já havia passado por várias mudanças, tendo-se convertido em 1911 na Escola Média Teórico-Prática de Agricultura, com o acervo e a administração passando ao Governo Federal, a qual também tem vida efêmera.

O majestoso edifício que foi sede do IIBA somente abrigaria novas atividades em 1920, quando o estado da Bahia, mais uma vez, assume o acervo e recria o curso de agronomia por meio da Escola Agrícola, o qual permaneceu em São Bento das Lages até 1929. A partir de 1930 a Escola é transferida para Salvador, para a antiga Hospedaria dos Imigrantes de Mont Serrat, onde hoje funciona o CRA, Centro de Recursos Ambientais, aí permanecendo até 1945 quando, com o nome de Escola Agronômica da Bahia, é, mais uma vez, transferida, desta feita para o município de Cruz das Almas, vinculando-se à Universidade Federal da Bahia, a partir de 1970.

Em que pese sua vida efêmera, o IIBA, como já se salientou, deu uma contribuição significativa para a expansão e consolidação da agricultura e da agroindústria baianas. Além da atividade científica propriamente dita, a instituição orientava também a implantação da infraestrutura econômica das regiões produtoras, fazia fomento e prestava assistência técnica à produção e à comercialização. O IIBA legou nos seus primeiros 50 anos de vida um rico acervo de técnicas para as lavouras da cana-de-açúcar, fumo, mandioca e algodão. Merecem destaque os resultados relativos à seleção e à introdução de espécies e variedades, práticas de conservação do solo, tratos culturais e controle de infestações de pragas e doenças, por meio do uso de substâncias naturais e sais de cobre e cálcio. Compunham também o acervo de conhecimentos gerados por essas pesquisas as informações sobre a produção de açúcar e álcool e sobre o manejo animal.

A história do "Imperial Instituto Bahiano de Agricultura, IIBA, pode ser resumida nos seguintes grandes períodos:

1) Fundação e Construção (1859 - 1875), na localidade conhecida como São Bento das Lages, localizada atualmente em São Francisco do Conde, Bahia;

2) Abertura Oficial do Ensino das Ciências Agrárias, em 15 de fevereiro de 1877, com início dos cursos de Engenharia Agronômica e de Medicina Veterinária;

3) Encerramento das atividades em 1904 (o nome de Imperial Instituto Bahiano de Agricultura já havia sido mudado, pois sugeria uma forte vinculação com o Império), em virtude das crises da República. Formara 273 engenheiros agrônomos.

4) A Província da Bahia Assume Integralmente a Instituição, entregando seu destino a pesquisadores estrangeiros. São Contratados três agrônomos alemães: Leo Zehutner, Julius Lohmman e Edmund Schubert.

5) Leo Zehutner Desiste da Direção por Falta de Apoio à Manutenção da Instituição nos Padrões que ele Exigia. O Instituto Agrícola encerra suas Atividades em 1911.

6) O Acervo é Passado ao Governo Federal, que o utiliza para a instalação da "Escola Média Theórico-Práctica de Agricultura, a qual tem vida efêmera, funcionando de 1912 até 1920.

7) O Majestoso Edifício que foi Sede do Imperial Instituto Bahiano de Agricultura é desativado e somente seria Sede de Novas Atividades em 1920, quando o Estado da Bahia, através de sua Secretaria de Agricultura, mais uma vez, assume o acervo e recria o curso de Agronomia, o qual tem continuidade até os dias atuais funcionando em Cruz das Almas e vinculado à Universidade Federal da Bahia a partir de 1970, após um período efêmero de funcionamento em Salvador na Hospedaria dos Imigrantes.


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1. O Imperador D. Pedro II, inequivocamente um homem com sensibilidade para apoiar a produção do conhecimento, tinha por hábito estimular que terceiros também o fizessem. Consta que esses 'mecenas' da ciência que ele conseguia gerar, eram todos condecorados com uma pequena medalha do mérito científico.
2. A respeito da propalada desqualificação da mão-de-obra escrava, ver estudo de Costa Pinto contestando esta visão (1988).
3. Como era de se esperar, a maior parte dos que se graduaram em agronomia pertencia à elite baiana, sendo que parcela significativa tinha sobrenome relacionado com a aristocracia agrária.
4. Antes de Maximiliano Habsburgo, um outro príncipe austríaco com o mesmo prenome, Maximiliano Wied, visitou o Brasil na condição de viajante erudito, aqui permanecendo de 1815 a 1817 (Pinto, 1985).