quinta-feira, 27 de maio de 2010

APRENDENDO A PENSAR

ESTE ARTIGO FOI COPIADO DO MEU EMAIL, UM AMIGO MEMANDOU, MAIS LÁ EM BAIXO ESTÁ O LINK DA PAGINA DO AUTOR.


Aprendendo a pensar

A maioria das aulas que tive foi expositiva. Um professor, normalmentemal pago e por isso mal-humorado, falava horas a fio, andando para láe para cá. Parecia mais preocupado em lembrar a ordem exata de suasidéias do que em observar se estávamos entendendo o assunto ou não.
Ensinavam as capitais do mundo, o nome dos ossos, dos elementosquímicos, como calcular o ângulo de um triângulo e muitas outrasinformações que nunca usei na vida. Nossa obrigação era anotar o que oprofessor dizia e na prova final tínhamos de repetir o que havia sidodito.
A prova final de uma escola brasileira perguntava recentemente se opaís ao norte do Uzbequistão era o Cazaquistão ou o Tadjiquistão.Perguntava também o número de prótons do ferro. E ai de quem nãosoubesse todos os afluentes do Amazonas. Aprendi poucas coisas que usoaté hoje. Teriam sido mais úteis aulas de culinária, nutrição eprimeiros socorros do que latim, trigonometria e teoria dos conjuntos.
Curiosamente não ensinamos nossos jovens a pensar. Gastamos horas ehoras ensinando como os outros pensam ou como os outros solucionaramos problemas de sua época, mas não ensinamos nossos filhos a resolveros próprios problemas.
Ensinamos como Keynes, Kaldor e Kalecki, economistas já falecidos,acharam soluções para um mundo sem computador nem internet. De tantoensinar como os outros pensavam, quando aparece um problema novo noBrasil buscamos respostas antigas criadas no exterior. Nossoseconomistas implantaram no Brasil uma teoria americana de "inflationtargeting", como se os americanos fossem os grandes especialistas eminflação, e não nós, com os quarenta anos de experiência que temos.Deu no que está aí.
De tanto estudar o que intelectuais estrangeiros pensam, nãoaprendemos a pensar. Pior, não acreditamos nos poucos brasileiros quepensam e pesquisam a realidade brasileira nem os ouvimos.Especialmente se eles ainda estiverem vivos. É sandice acreditar queintelectuais já mortos, que pensaram e resolveram os problemas de suaépoca, solucionarão problemas de hoje, que nem sequer imaginaram.Raramente ensinamos os nossos filhos a resolver problemas, a não seralgumas questões de matemática, que normalmente devem ser respondidasexatamente da forma e na seqüência que o professor quer.
Matemática, estatística, exposição de idéias e português obviamentesão conhecimentos necessários, mas eu classificaria essas matériascomo ferramentas para a solução de problemas, ferramentas que ajudam apensar. Ou seja, elas são um meio, e não o objetivo do ensino.Considerar que o aluno está formado, simplesmente por ele ter sidocapaz de repetir os feitos intelectuais das velhas gerações, é fugirda realidade.
Num mundo em que se fala de "mudanças constantes", em que "nada será omesmo", em que o volume de informações "dobra a cada dezoito meses",fica óbvio que ensinar fatos e teorias do passado se torna inútil eaté contraproducente. No dia em que os alunos se formarem, mais dedois terços do que aprenderam estarão obsoletos. Sempre teremosproblemas novos pela frente. Como iremos enfrentá-los depois deformados? Isso ninguém ensina.
Existem dezenas de cursos revolucionários que ensinam a pensar, masque poucas escolas estão utilizando. São cursos que analisamproblemas, incentivam a observação de dados originais e a discussão dealternativas, mas são poucas as escolas ou os professores no Brasiltreinados nesse método do estudo de caso.
Talvez por isso o Brasil não resolva seus inúmeros problemas. Talvezpor isso estejamos acumulando problema após problema sem conseguirachar uma solução.
Na próxima vez em que seu professor começar a andar de um lado para ooutro, pense no que você está perdendo. Poderia estar aprendendo apensar.
Stephen Kanitz é administrador (www.kanitz.com.br)
Artigo Publicado na Revista Veja, edição 1763, ano 35, nº 31, 7 deagosto de 2002

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